Dia sete de setembro de 1822 é considerada a data oficial de nossa independência, quando D. Pedro de Alcântara e Bragança às margens do Rio Ipiranga proferiu sua famosa frase “independência ou morte!” No mês seguinte foi renomeado para D. Pedro I e proclamado imperador do Império do Brasil, onde assumiu um país novo, no qual não havia mais condições de retornar ao status de colônia, totalmente dependente do Reino de Portugal. O novo rei, um rapaz de 21 anos, teve que lidar com tropas portuguesas insubordinadas e sufocar diversas guerras civis que eclodiram após a proclamação da independência. Sua luta e perseverança permitiram manter a soberania brasileira, e fazer com que outros países a reconhecessem. A independência conquistada no século XIX nos tornou um dos maiores países do planeta em área territorial e com uma economia e sociedade emergente. Um império cujos monarcas sempre se manifestaram contra o regime escravocrata e que lutaram até o fim contra ele. Porém somente nos últimos suspiros do Segundo Reinado conseguiram extirpar este mal da sociedade brasileira, levantando a ira dos grandes latifundiários que abandonaram seu apoio a monarquia e auxiliaram na proclamação da república. E qual o sentido de comemorar o sete de setembro nos dias de hoje?

Lembro-me de quando pequeno nos anos oitenta e anualmente nos preparávamos para o desfile da festa magna da pátria. Ensaiávamos duas vezes por semana durante dois meses em horário escolar, ao ritmo dos instrumentos da banda treinada por um cinquentenário e experiente professor de educação física. Homem de voz firme e postura disciplinadora que nos incutia respeito e todas as manhãs organizava as turmas para que entrassem em filas silenciosas às salas de aula. Isto era a rotina diária e não apenas às vésperas dos desfiles pátrios em que a única regalia era a dispensa de vir uniformizados às aulas, uma vez que os uniformes precisavam estar impecáveis para o grande dia. Durante o treino, todos os professores eram encarregados em verificar se os alunos marchavam ritmicamente, minimizando brincadeiras e algazarras comuns de alunos pueris do ensino fundamental.

Infelizmente, poucos colégios no país mantêm esta tradição, pois a maioria está mais preocupada em doutrinar os alunos com ideologias contrárias ao civismo e patriotismo e treiná-los aos concursos vestibulares. Eram os tempos em que tínhamos as disciplinas Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil para crianças de doze anos de idade. Disciplinas que deveriam retornar aos currículos escolares, ao considerar que civismo e moralidade não são mais considerados importantes para os atuais criadores dos currículos escolares.

Há tempos somos testemunhas do descaso governamental acerca da cultura e de nossa própria história. Como historiador, conheci muitos arquivos e museus presentes em grandes e pequenas cidades do país, que contrastam muito com aqueles que visitei na Itália. E as situações de cada instituição eram sempre semelhantes, ou seja, dependiam exclusivamente do empenho dos dirigentes e funcionários para manter e disponibilizar seus acervos. Uma prova disso foi a recente tragédia no Museu Nacional, que havia completado duzentos anos de atividades antropológicas e de história natural. Fato que não somente comoveu, mas revoltou a comunidade cientifica do mundo, como por exemplo, o egiptólogo Doutor Zahi Hawass, talvez a maior autoridade mundial no assunto. Dr. Hawass citou a incompetência governamental brasileira e afirmou que se um país não tem condições de preservar artefatos históricos, promover restauração adequada e disponibiliza-los ao público, que sejam devolvidos aos países de origem. Este cientista possui forte campanha para a devolução de acervos egípcios que estão há anos em museus da Europa e dos Estados Unidos. O Museu Nacional possuía mais de setecentos itens da era faraônica adquiridos por Dom Pedro I e posteriormente, pelo seu filho Dom Pedro II que era egiptólogo amador.

Com a quase extinção dos desfiles cívicos organizados pelas escolas, de disciplinas como EMC e OSPB, aos poucos, as novas gerações têm perdido o senso de identidade nacional. Fatos históricos do passado são situações abstratas que só fazem sentido nas apostilas de cursinhos vestibulares. Nossos símbolos nacionais somente são lembrados a cada quatro anos. No decorrer de quase duzentos anos da independência brasileira, estamos vivenciando nas ultimas décadas, a morte de nossa história e a legitimação do inútil como instrumento propagador de ideologias subversivas. Como muito bem resumiu o jornalista Alexandre Garcia: “Já falsificaram tanto a História… Só faltava queimar as provas.”

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