O Dia do Soldado
Na data de 25 de agosto comemora-se o Dia do Soldado Brasileiro. Data escolhida por ser aniversário de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Mas quem foi Caxias e por que ele merece ser lembrado?
Caxias pertence a uma vasta família de tradição militar que remete a própria formação histórica de Portugal, cujas mãos se calejaram combatendo mouros naquele país. Pelo lado materno, descende do cavaleiro normando Ferdinand Brandon, seu vigésimo avô. Seu pai, General Francisco de Lima e Silva foi senador e regente do império durante a minoridade de Dom Pedro II.
Aos cinco anos Luis Alves de Lima e Silva se tornou cadete. Tenente aos dezenove, estreia no campo de batalha em companhia do seu tio, José Joaquim de Lima e Silva. Era a primeira vez também, que viajou além-mar para uma distante província do império. Na Bahia em 1823, o General português Madeira de Mello não reconhecia a independência brasileira e promove intensa resistência. Dom Pedro I envia reforços e nomeia José Joaquim como Comandante do Batalhão do Imperador (uma espécie de Guarda Pretoriana dos césares), e leva consigo seu sobrinho Luis Alves, que revela excepcionais qualidades de iniciativa, comando, inteligência e bravura. Atributos estes, que lhe propuseram uma intensa carreira de triunfos. Após a derrota do General Madeira de Mello, Luis Alves é promovido a capitão e nomeado Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro, a primeira ordem honorifica genuinamente brasileira.
Em 1825 iniciou-se a Campanha da Cisplatina e o Capitão Luis Alves desloca-se para os pampas, junto com o Batalhão do Imperador. Sua competência como comandante o faz merecedor de condecorações e comandos sucessivos, retornando da campanha no posto de major. Nas décadas seguintes, do Maranhão ao Rio Grande do sul, sempre solicitado para pacificar as regiões conflituosas, primeiramente por Dom Pedro I e depois por Dom Pedro II, a quem instruiu esgrima em sua juventude. Esta relação professor-aluno criou uma grande amizade e admiração ao militar que ascendia interruptamente em sua carreira. E foi no Maranhão, com a conquista da cidade de Caxias, que Luis Alves foi promovido a brigadeiro, (posto na época abaixo apenas do marechal de campo) e se tornou Barão de Caxias. Tornou-se Duque somente 10 anos antes de sua morte, após atuação como comandante em chefe do Exército Brasileiro na Guerra do Paraguai.
Em 1842 houve um levante na província de São Paulo organizado pelos liberais do Império, opositores das direções políticas em vigor. D. Pedro II chama Caxias para que pudesse pacificar a região, onde conseguiu cumprir seu papel em pouco mais de um mês. Temeroso que a revolta pudesse se expandir para Minas Gerais, novamente Caxias é solicitado e no mesmo ano consegue trazer a paz neste estado. Pelos valiosos serviços prestados nas regiões conflituosas, é promovido ao posto de Marechal de Campo aos 38 anos de idade. Porém ainda existiam grandes levantes separatistas no Rio Grande do Sul e ainda em 1842, Caxias é enviado para lá a fim de intervir e negociar a paz local. Ao chegar a Porto Alegre proferiu: “Lembrai-vos que a poucos passos de vós está o inimigo de todos nós – o inimigo de nossa raça e de tradição. Não pode tardar que nos meçamos com os soldados de Oribes e Rosas; guardemos para então as nossas espadas e o nosso sangue. Abracemo-nos para marcharmos, não peito a peito, mas ombro a ombro, em defesa da Pátria, que é a nossa mãe comum”.
Pelo respeito que tratava os líderes presos desta revolução e a intenção real de negociar a paz, consegue em 1845 negociar o fim deste conflito. General João Manuel de Lima e Silva, tio de Caxias era um dos líderes militares da Revolução Farroupilha, foi morto em combate no ano de 1837.
Foram mais de sessenta anos em que a invicta espada de Caxias serviu a monarquia, sob o comando de dois gestores. Da Independência à Guerra do Paraguai, Caxias não somente sufocou revoltas, guerras e conflitos internos, mas também agiu com sabedoria em tratar com dignidade os inimigos vencidos, respeitar os povos envolvidos e a soberania das nações conflituosas. Onde havia conflitos, tanto D. Pedro I e posteriormente seu filho D. Pedro II recorriam a Caxias para que pudesse tomar as rédeas e trouxesse novamente a paz a toda nação brasileira. Sexagenário e com a saúde abalada, em 1869, Caxias se retira do comando da Guerra do Paraguai após conquistar várias cidades ocupadas pelo exército de Lopez e declara a guerra vencida. Em extensa carta ao imperador, ele insiste em que a paz deveria ser negociada a todo esforço, uma vez que o Paraguai não tinha mais chances de dar continuidade as suas ofensivas, o que iria contra os protocolos da Tríplice Aliança. Sua retirada do comando irritou D. Pedro II que sequer foi recebê-lo quando regressou vitorioso ao Rio de Janeiro. O imperador passa a liderança da guerra ao seu genro, o Conde D´Eu que aniquilou o Paraguai e dizimou a população masculina em quase sua totalidade. O exército de Caxias foi obrigado pelo conde a lutar contra crianças, mulheres e velhos que restavam para defender o seu país.
Em 1870 recebe o título de Duque e é nomeado Conselheiro de Estado contra sua vontade, e mesmo assim, atendeu os suplícios do imperador. Com o falecimento de sua esposa em 1874, Caxias só desejava retornar à sua fazenda, mas D. Pedro II o nomeia pela terceira vez presidente do Conselho. Neste cargo, Caxias consegue o decreto de anistia para dois bispos, o que aliviou as tensões entre Igreja e Estado, que poderiam culminar em inúmeras guerras internas. Sua decisão contrariou a vontade do imperador que parte de férias ao estrangeiro permanecendo mais de um ano fora. Quando regressa, demite Caxias e finalmente o libera para seguir seu desejado destino em sua fazenda.
Com fins de não estender muito o texto e poupar o leitor dos detalhes de cada guerra ou motins internos que Caxias participou, podemos destacar os principais:
- 1823, Guerra de Independência;
- 1825-28, Campanha Cisplatina;
- 1831, Motins no Rio de Janeiro;
- 1840-41, Balaiada, no Maranhão;
- 1842, Motins em São Paulo e Minas Gerais;
- 1843-45, Revolução Farroupilha;
- 1851-52, Campanha em Montevideo;
- 1865-69, Guerra do Paraguai.
Foram mais de sessenta anos em que a invicta espada de Caxias serviu a monarquia, sob o comando de dois gestores. Da Independência à Guerra do Paraguai, Caxias não somente sufocou revoltas, guerras e conflitos internos, mas também agiu com sabedoria em tratar com dignidade os inimigos vencidos, respeitar os povos envolvidos e a soberania das nações conflituosas. Onde havia conflitos, tanto D. Pedro I e posteriormente seu filho D. Pedro II recorriam a Caxias para que pudesse tomar as rédeas e trouxesse novamente a paz a toda nação brasileira. Sexagenário e com a saúde abalada, em 1869, Caxias se retira do comando da Guerra do Paraguai após conquistar várias cidades ocupadas pelo exército de Lopez e declara a guerra vencida. Em extensa carta ao imperador, ele insiste em que a paz deveria ser negociada a todo esforço, uma vez que o Paraguai não tinha mais chances de dar continuidade as suas ofensivas, o que iria contra os protocolos da Tríplice Aliança. Sua retirada do comando irritou D. Pedro II que sequer foi recebê-lo quando regressou vitorioso ao Rio de Janeiro. O imperador passa a liderança da guerra ao seu genro, o Conde D´Eu que aniquilou o Paraguai e dizimou a população masculina em quase sua totalidade. O exército de Caxias foi obrigado pelo conde a lutar contra crianças, mulheres e velhos que restavam para defender o seu país.
Em 1870 recebe o título de Duque e é nomeado Conselheiro de Estado contra sua vontade, e mesmo assim, atendeu os suplícios do imperador. Com o falecimento de sua esposa em 1874, Caxias só desejava retornar à sua fazenda, mas D. Pedro II o nomeia pela terceira vez presidente do Conselho. Neste cargo, Caxias consegue o decreto de anistia para dois bispos, o que aliviou as tensões entre Igreja e Estado, que poderiam culminar em inúmeras guerras internas. Sua decisão contrariou a vontade do imperador que parte de férias ao estrangeiro permanecendo mais de um ano fora. Quando regressa, demite Caxias e finalmente o libera para seguir seu desejado destino em sua fazenda.
No leito de sua morte em 1880, deixou bem acentuado que renunciava de todas as honrarias e homenagens devido sua condição de duque e sua alta categoria politica. Possuía orgulho apenas da farda e da grande família que pertencia: o Exército Brasileiro. Todas as autoridades estiveram presentes ou representadas no enterro do Duque, com exceção de uma: o próprio imperador, que faleceu alguns anos depois testemunhando o desmoronamento do seu império pelas mãos dos proclamadores da república.
Luis Alves de Lima e Silva deixa como um de seus legados, a definição do território brasileiro que temos hoje, que por décadas nossas fronteiras foram defendidas, reafirmadas e mantidas, apesar do constante esforço dos separatistas em desmembrar nosso país. Como líder militar, Caxias sempre presente nos campos de batalha mantinha pessoalmente o Exército treinado, abastecido e sob uma rígida disciplina aos moldes das falanges espartanas. O Exército sob seu comando nunca conheceu a derrota, ao considerar que o Brasil após sua independência teve praticamente todo seu efetivo recolhido por Portugal. Precisou ser urgentemente reestabelecido, reorganizado e profissionalizado em poucos anos.
Na condição de Presidente do Conselho pela terceira vez, com o cargo de Ministro da Guerra, o exército foi beneficiado com realizações de grande relevância:
- Adoção de armamento retrocarga, surgidos na Europa (fuzil Comblain francês para a infantaria, carabina Spencer para cavalaria e canhões alemães para artilharia);
- Construção de fortificações em Tabatinga, Corumbá e Uruguaiana;
- Ampliação da Escola Militar;
- Criou o Regulamento para a disciplina e serviço interno dos corpos arregimentados em quarteis fixos, que originou o atual RISG (Regulamento Interno e dos Serviços Gerais.);
- Criação do Corpo de Transportes e das Companhias Telegrafistas Militares.
25 de agosto de 2018 é o 215° aniversário de Luis Alves de Lima e Silva, o patrono do Exército Brasileiro. 25 de agosto é também o Dia do Soldado, cuja data não foi escolhida por acaso. O soldado era pra Caxias, o alicerce que garante o sucesso ou a derrota de todo um exército. Deixou em seu testamento, que seu caixão deveria ser carregado por soldados e não por oficiais, como era a tradição. Um general não é nada sem soldados assim como uma nação também não é. Sem soldados um país não conquista, não garante nem mesmo suas fronteiras, e um exército fraco faz de sua nação uma anã diplomática sem voz, frente aos estados cujas forças armadas impõem respeito. E foi para isto que Caxias dedicou sua vida: profissionalizar o exército e demais forças para a defesa do império e pacificar zonas conflituosas. Sua invencibilidade foi decorrente da presença constante em disciplinar as tropas e lidar com desajustados, doenças como cólera, intempéries, construção de estradas, desbravamento de áreas inabitadas, entre outras situações pelo extenso território nacional ao longo de décadas de conflitos.
Atualmente há um esforço por parte de alguns profissionais da história, jornalistas e outros literatos em esquecer grandes nomes da história brasileira, seja por distorção de seus feitos, difamação ou no mínimo omitir o que fizeram pela nação. Não é por acaso que carecemos de referências brasileiras de heroísmo e de inspiração. Não sabemos quem são nossos pais fundadores, heróis da independência e do Império, cujas ideias forjaram nossa nação que desde a proclamação da república vem sendo mal conduzida por governantes ineptos e corruptos.
Estamos em ano eleitoral e poderemos ter novamente militares no comando do país. Frente a tantos outros problemas, o Brasil precisa recuperar o orgulho de sua própria história: de lembrar que Portugal no continente sul-americano conquistou um território noventa e duas vezes maior que o seu, onde implantou seu idioma, cultura e religião. Fez isto em inúmeras outras colônias espalhadas pelo mundo. Com o passar dos séculos fomos incrementados com contribuições africanas, indígenas, de imigrantes de vários países que nos fizeram brasileiros, frutos de tantos povos unidos numa única nação. E o que sabemos sobre nós mesmos, sobre nossos antepassados que deram o sangue pela formação do país ou sobre nossa própria história? Quase nada. Portanto, o Brasil precisa de uma reestruturação educacional que recupere nossos heróis esquecidos e seus feitos, a fim de que as novas gerações possam incorporar o sentido de civismo, patriotismo e honra. Que diariamente sejamos brasileiros orgulhosos de nossa história e de nossos símbolos, e não apenas em disputas esportivas quando lembramos de pendurar bandeiras e torcer pelo país.
Fontes:
CARVALHO, Affonso de. Caxias. Editora Graphicos Bloch, 1938.
CHIAVENATTO, Julio J. Genocídio Americano – Guerra do Paraguai. Editora Brasiliense, 1980.
CAMPOS, Pe. Joaquim P. de. Vida do Grande Cidadão Brasileiro Luiz Alves de Lima e Silva. Editora do Exército, 1939.
WIEDERSPAHN, Henrique O. João Manuel de Lima e Silva, o General Farroupilha. Livraria Sulina Editora, 1984.
Site pesquisado: http://www.eb.mil.br/patronos/-/asset_publisher/DJfoSfZcKPxu/content/biografia-resumida-do-duque-de-caxias?inheritRedirect=false. Acesso em 20 de agosto de 2018.