Em uma época não muito distante, em fins dos anos de mil e setecentos, existiu um reino imaginário chamado Avilan. Uma caricatura do Brasil que sustentava seu processo de redemocratização no ano de 1989. A novela intitulada Que Rei Sou Eu? apresentava trama de esculacho político e de reflexões revolucionárias que nem de longe vemos em novelas atuais. Em Avilan, o governo é composto por um conselho corrupto que domina uma rainha indiferente, e de um falso rei criado por um diabólico e muito poderoso conselheiro bruxo, com o intuito de se manter no poder por tempo indeterminado. O falso soberano era um mendigo que foi legitimado e forjado pelo mago, como o único herdeiro masculino do falecido rei anterior. Os nobres criam leis para benefícios próprios, só e somente.

Ridicularizam a miséria popular e mandam à guilhotina seus opositores sejam eles do povo ou da própria corte. Eles não desejam nenhuma mudança à sua rotina com exceção ao ganho de mais dinheiro e poder. O único conselheiro que combatia a corrupção foi condenado à morte, mas conseguiu se safar e juntou-se com os revolucionários ao lado de sua esposa, defensora da igualdade das mulheres perante os homens. O que chama a atenção nessa narrativa de 1989, novamente no ar em 2012 e ambientada nas iminências da Revolução Francesa de 1789, são as ideias proferidas no decorrer da trama, como posse de armas, revolução popular, sequestros de membros do conselho e da família real. O líder dos rebeldes vem do povo e é o verdadeiro herdeiro do trono, filho bastardo do monarca falecido. Quando soube desta situação particular, mantida em segredo por anos pela cigana que o criou, sua luta tornou-se mais acirrada, pelo sonho de um país mais justo voltado às necessidades populares. Para que consiga seu intento, armas são roubadas do exército real, assaltos a bancos e carruagens, sequestros, rebeldes infiltrados como serviçais da rainha, tudo para que em um curto espaço do tempo, consigam concretizar sua revolução em prol dos menos favorecidos. Frases como “Os nobres estão com medo porque nós temos as armas” são bastante comuns no mundo imaginário de Avilan. Neste século já presenciamos quatro mandatos de um presidente proletário e sua chapa. Porém não se assiste mais telenovelas que permitam alguma reflexão da conjuntura governamental e a quem ela favorece. Aliás, as novelas do século XXI não permitem quaisquer pensamentos, nada que possa discutir a política estabelecida, nada que faça o telespectador parar e avaliar o que foi dito ou mostrado na TV. Porque o que se mostra é voltado para distrair e manter a todo custo o distanciamento do pensar: a arte da irreflexão humana que gera o cultivo do esvaziamento mental.

Na época menos distante de 1989, falar em armas na televisão era representar um ensejo por justiça, a vontade de mudar uma situação quase imutável, através do uso da força argumentada pela hipótese de um governo justo e mais igualitário. Um governo que não teme o povo, não tem a necessidade de neutralizar seu poder de raciocínio. Afinal, como proferiu um poeta quinhentista: Todos os profetas armados venceram e os desarmados foram destruídos!

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